quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Estadiamento e Tratamento da Dengue:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO JOÃO DE BARROS BARRETO
CLÍNICA DE DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS - DIP.




Estadiamento e Tratamento:
É importante a reavaliação freqüente do paciente (história clínica e exame físico) com
registro dos dados em prontuário. A detecção de sinais/sintomas de alerta com imediata
reposição hídrica melhora o prognóstico do paciente.
Não existe droga antiviral, até o momento, que tenha mostrado ação na dengue. Portanto, a
terapêutica é de reposição e sintomática.
8.1 Grupo A
8.1.1 Caracterização:
a) Febre por até sete dias, com pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos (cefaléia,
prostração, dor retroorbitária, exantema, mialgia, artralgia) e história epidemiológica
compatível;
b) Sem manifestações hemorrágicas espontâneas e prova do laço negativa;
c) Ausência de sinais de alerta.
8.1.2 Conduta diagnóstica
a) Específica: solicitar sorologia.
b) Inespecíficos: a coleta deve ser no mesmo dia.
− Hematócrito
− Hemoglobina
− Plaquetometria
− Leucograma
8.1.3 Conduta terapêutica
a) Hidratação oral
− Orientar 60 a 80 ml/kg/dia sendo um terço para solução salina (soro oral) e os dois
terços restantes líquidos caseiros (chá, água de coco, sucos, etc.);
− Primeiro dia: 80 ml/kg/dia; a partir do segundo dia 60 ml/kg/dia;
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− Não interromper a alimentação;
− Não há contra-indicação ao aleitamento materno.
− Crianças: seguir anexo A
b) Sintomáticos:
− Para pacientes com febre elevada ou dor;
− Evitar a via intramuscular;
− Antitérmicos: dipirona ou paracetamol;
− EVITAR: salicilatos (AAS), antiinflamatórios não hormonais e drogas com
potencial hemorrágico;
− Antieméticos: bromoprida.
− Antipruriginosos: o prurido que surge na dengue é autolimitado e dura de 36 a 48
horas. A terapêutica nem sempre é satisfatória. Orientar banhos frios, compressas
com gelo, pasta d’água. Como medicações, podem ser feitas: loratadina.
c) Orientação aos familiares e pacientes
− Esclarecer quais são os sinais/sintomas de alerta;
− Retornar, imediatamente, se houver surgimento de algum sinal de alerta;
− Retornar pelo menos no primeiro dia de desaparecimento da febre, pois este período
é considerado crítico;
− As crianças devem retornar 48 horas após a primeira consulta.
8.2 Grupo B
8.2.1 Caracterização
a) Febre por até sete dias, acompanhada de pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos
(cefaléia, prostração, dor retroorbitária, exantema, mialgia, artralgia) e história epidemiológica
compatível;
b) Manifestações hemorrágicas espontâneas ou prova do laço positiva, porém sem repercussão
hemodinâmica;
c) Ausência de sinais de alerta.

Conduta diagnóstica:
a) Específica: solicitar sorologia e isolamento viral. Encaminhar ao Instituto Evandro Chagas.
b) Inespecífica: coleta e resultados imediatos. Colher antes do início da reposição hídrica.
− Hematócrito
− Hemoglobina
− Plaquetometria
− Leucometria
8.2.3) Conduta terapêutica:
a) Proceder à internação para observação;
b) Sintomáticos e Hidratação
c) A hidratação oral deve seguir as recomendações de pacientes do Grupo A;
d) A conduta dependerá dos resultados dos exames inespecíficos:
I. Paciente com hemograma normal: manter internado por 48 horas em observação. Proceder à
hidratação oral e administração de sintomáticos. Reavaliar.
II. Pacientes com hematócrito aumentado em até 10% acima do valor basal ou, na ausência
deste, com as seguintes faixas de valores:
− Crianças: maior ou igual a 38% e menor ou igual a 42%
− Mulheres: maior ou igual a 40% e menor ou igual a 44%
− Homens: maior ou igual a 45% e menor ou igual a 50%
− e/ou plaquetopenia entre 50.000 e 100.000 céls/mm3 e/ou leucopenia menor que
1.000 céls/mm3
Como Proceder:
− Manter internado em observação por pelo menos 48 horas. Reavaliar;
− Hidratação oral rigorosa (80 ml/kg/dia): conforme orientado ao Grupo A. Na
impossibilidade de hidratação oral, proceda a hidratação venosa (anexo B);
− Sintomáticos;
− Ficar atento e orientar sobre os sinais de alerta.
III. Paciente com hematócrito aumentado em mais de 10% acima do valor basal ou, na
ausência deste, com os seguintes valores:
− Crianças: maior de 42%
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− Mulheres: maior de 44%
− Homens: maior de 50%
− e/ou plaquetopenia: menor de 50.000 céls/mm3
Como Proceder:
− Manter internado e em observação até estabilização do quadro (melhora de
plaquetas e hematócrito. Ver critério de alta);
− Hidratação parenteral: 80 ml/kg/dia (anexo B).
− Sintomáticos
− Reavaliação clínica e de hematócrito após a etapa de hidratação:
a) Se hematócrito normal: fazer hidratação de manutenção a qual pode ser oral.
b) Se resposta inadequada: repetir a hidratação parenteral. Repetir avaliação clínica
e de hematócrito.


Grupos C e D
8.3.1 Caracterização:
a) Febre por até sete dias, acompanhada de pelo menos dois sinais e sintomas inespecíficos
(cefaléia, prostração, dor retroorbitária, exantema, mialgia, artralgia) e história epidemiológica
compatível;
b) Presença de algum sinal de alerta e/ou;
c) Choque;
d) Manifestações hemorrágicas presentes ou ausentes.
8.3.2 Conduta diagnóstica:
a) Inespecífica: solicitar sorologia e isolamento viral.
b) Inespecífica: coleta e resultados imediatos.
− Hematócrito;
− Hemoglobina;
− Plaquetometria;
− Leucograma;
− Outros exames serão orientados pela história clínica: gasometria, eletrólitos,
transaminases, albumina, raios-x de tórax (perfil, PA, decúbito lateral com raios
horizontalizados), ultra-sonografia de abdômen, coagulograma, proteínas total e
frações, líquor, urina, glicose, etc.
8.3.3 Conduta terapêutica:
a) Grupo C: paciente sem hipotensão
− Manter internado e em observação;
− Hidratação EV imediata: 25 ml/kg em quatro horas, sendo um terço deste volume
na forma de solução salina isotônica;
− Sintomáticos;
− Reavaliação clínica periódica;
− Reavaliação laboratorial: plaquetas após 12 horas e hematócrito após quatro horas;
− Se houver melhora clínica e laboratorial, iniciar etapa de manutenção com 25 ml/kg
em cada uma das etapas seguintes (8 e 12 horas);
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− Se a resposta for inadequada, repetir a conduta anterior, reavaliando ao fim da
etapa. Pode-se repetir a prescrição por até três vezes. Reavaliar:
• Se houver melhora, passar para a etapa de manutenção com 25 ml/kg em cada uma das
etapas seguintes (8 e 12 horas);
• Se a resposta for inadequada, tratar como paciente com hipotensão.
c) Grupo D: paciente com estreitamento da pressão, hipotensão ou choque.
− Manter internado, idealmente, em unidade de terapia intensiva;
− Proceder à hidratação EV imediata (fase de expansão): 20 ml/kg/hora de
solução salina isotônica. Se necessário, repetir por até três vezes;
− Reavaliação clínica a cada 15 a 30 minutos e hematócrito a cada duas horas:
Se houver melhora do choque (normalização de PA, débito urinário, pulso e
respiração): proceder à terapêutica de reposição volêmica como no paciente
do grupo C;
Se a resposta for inadequada, avaliar a hemoconcentração:
Hematócrito em ascensão: utilizar expansores plasmáticos (colóides
sintéticos na dose de 10 ml/kg/hora);
Hematócrito em queda
Investigar hemorragias e coagulopatias de consumo. Caso
presente, proceder à transfusão de concentrado de hemácias e
avaliação de especialista;
Investigar hiperhidratação (sinais de insuficiência cardíaca
congestiva) e tratar com diuréticos, se necessário.
− Monitoramento laboratorial:
Hematócrito a cada duas horas durante o período de instabilidade. Após,
estabilização, a cada quatro a seis horas nas primeiras 12 horas;
Plaquetas a cada 12 horas.
− Corrigir demais distúrbios hidreletrolíticos e ácido básico. Para tanto, torna-se
importante, gasometria arterial, eletrólitos, uréia, creatinina, etc.





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